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Chico Xavier e a Montagem

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Olá! Hoje é um dia especial, dia do lançamento do filme de Daniel Filho, Chico Xavier, este grande homem que hoje completaria 100 anos. Chico foi um raríssimo exemplo de abnegação, humildade e altruísmo. Se o mundo tivesse mais pessoas como ele, certamente este seria um planeta muito diferente, muito melhor.

chicoxavier_1

Eis uma pequena história do livro de Marcel Souto Maior, As Vidas de Chico Xavier:

“Muitos, impressionados com os poderes do protegido de Emmanuel [está referindo-se ao Chico Xavier], chegavam a oferecer dinheiro ao rapaz pobre como prova de gratidão. Ele recusava:

- Ajude o primeiro necessitado que encontrar.

Outros lhe entregavam presentes. Chico se livrava deles com pressa e discrição. Numa noite, ganhou um relógio de ouro suíço. Na tarde seguinte, visitou uma doente, Glória Macedo. Pobre, ela costumava perder a hora de tomar os remédios receitados pelo Dr. Bezerra por falta de relógio. Chico deixou o presente da véspera sobre a mesa da ‘paciente’.”

vidas_chico As lições de Chico Xavier Por Trás do Véu de Ísis Livros de Marcel Souto Maior sobre Chico Xavier

No site do YouTube há o making of do filme, dividido em três partes. Assistam-no, é muito interessante. Os links estão a seguir:

Making of Chico Xavier – Parte 1

Making of Chico Xavier – Parte 2

Making of Chico Xavier – Parte 3

Tem também o site oficial do filme, clique aqui para entrar nele.

Numa cena da primeira parte do making of vemos o elenco reunido para ler o roteiro, e é mostrado um detalhe dele. Eu tirei um screenshot para vocês verem:

Making of _ Chico Xavier

Detalhe do roteiro de Chico Xavier – O Filme

Note que o roteiro é encadernado com espirais, diferentemente dos roteiros americanos. Esta é a versão para filmagem, mas acho que no Brasil até as versões anteriores costumam ser encadernadas deste modo.

Repare também que as cenas são numeradas, uma das características de roteiros de filmagem. E veja que esta é uma cena de montagem.

Uma cena de montagem de um roteiro normal é diferente da que estamos vendo, porque quando o diretor adapta o roteiro para rodá-lo ele precisa dividir uma montagem em mais cenas, de acordo com as locações e com as necessidades da direção. Como escrever uma cena de montagem então?

Denny Martin Flinn explica isso muito bem em seu livro Como Não Escrever Um Roteiro (How Not To Write a Screenplay), editado pela Lone Eagle em 1999. Um excelente livro. Se você lê em inglês e tem a oportunidade de comprá-lo, não hesite. Infelizmente o frete da Amazon.com anda muito caro. A maioria dos meus livros eu comprei quando o dólar e o real estavam páreo a páreo, 1 dólar valendo 1 real. Como os livros americanos são mais baratos do que os brasileiros (mas também costumam ter uma qualidade de papel inferior), custando em média 10 a 15 dólares, eu conseguia comprar uns 15 livros com duzentos reais, frete incluído. Na última vez que visitei o site para pesquisar os preços, 2 livros de 15 dólares (no total, cerca de 60 reais) tinham um frete de 70 dólares (aproximadamente 140 reais!). Duzentos reais para dois livros simplezinhos?! Eu acabei desistindo. É uma pena. Talvez isso se resolva quando eu tiver o meu iPad (suspiro!!) e puder comprar apenas a versão virtual dos livros (que também custam cerca de 10 a 12 dólares cada, mas não há necessidade do frete).

Ai, ai… nono2

Bem, voltando ao assunto, eis o trecho do livro que fala sobre montagem:

How Not To Write a Screenplay

A Montagem

CORTA PARA: Uma série de cortes rápidos envolvendo Rebecca e Michael. Trilha sonora. Michael saindo cedo do escritório, para a inveja de seus colegas. Michael fazendo compras em feiras de rua. Michael cozinhando, queimando seus dedos, bebericando vinho na casa de Rebecca, então cumprimentando Rebecca vestido de avental, com uma bebida na mão tipo Donna Reed. Michael levando Rebecca para o sofá após o jantar. Michael e Rebecca fazendo amor.

Michael e Rebecca deitados nus (ambos usando óculos) na cama, com o jornal e um café, brigando por um dos cadernos do jornal e então se beijando. Michael e Rebecca andando pela costa no conversível Healey, com o oceano como pano de fundo. Tomando um café da manhã tardio na água, andando na praia. Escondendo-se sob o píer para descolar um baseado com os surfistas, dando risadinhas excitadas feito adolescentes. Assistindo o sol mergulhar com um jato de luz sobre a água. Correndo na praia, com Rebecca correndo facilmente e Michael ofegante em seu encalço. Fazendo amor novamente.

Isto soa como um ótimo fim de semana para mim, mas quanto à escrita do roteiro, é muito ruim porque não há nada remotamente original nisto, e porque o leitor se perde quando você apresenta ideias demais juntas. Eu já estava na metade do exemplo acima quando fui perceber que o escritor queria uma montagem. Aqui está um jeito muito melhor de formatar a mesma coisa:

MONTAGEM:

Michael saindo cedo do escritório, para a inveja de seus colegas.

Michael fazendo compras em feiras de rua.

Michael cozinhando, queimando seus dedos.

Bebericando vinho na casa de Rebecca.

Cumprimentando Rebecca vestido de avental, com uma bebida na mão tipo Donna Reed.

Michael levando Rebecca para o sofá após o jantar.

Michael e Rebecca fazendo amor.

– ou –

Uma série de cortes rápidos envolvendo Rebecca e Michael.

…Michael saindo cedo do escritório, para a inveja de seus colegas.

…Michael fazendo compras em feiras de rua.

…Michael cozinhando, queimando seus dedos, bebericando vinho na casa de Rebecca, então cumprimentando Rebecca vestido de avental, com uma bebida na mão tipo Donna Reed.

…Michael levando Rebecca para o sofá após o jantar.

…Michael e Rebecca fazendo amor.

Eu já vi escrita mais genérica, tal como:

UMA SÉRIE DE CORTES RÁPIDOS

indicam que Michael vai para casa cedo, compra mantimentos, cozinha o jantar para Rebecca e, mais tarde, leva-a para o sofá onde fazem amor.

Mas isso é um pouco sovina demais. Talvez um meio-termo seja o melhor, já que esta última versão deixa coisas demais para o diretor imaginar. Apenas tenha em mente que você precisa deixar o leitor saber que se trata de uma montagem de algum tipo.

É isso aí. Até que é simples, não? Ah, antes que eu me esqueça, já saiu um livro contando os bastidores do filme do Chico Xavier. É bem legal, um complemento ao making of, vale a pena, apesar dele ter mais fotos do que texto (eu queria saber mais!!). Puxa, como eu queria ser um mosquitinho para poder ter acompanhado in loco o passo a passo da produção toda deste filme de 11 milhões de reais (parece ser bem caprichada)!

Daniel Filho dirigindo

Daniel Filho dirigindo Chico Xavier – O Filme. Essa energia toda e ele tem 72 anos! Acreditam?!

Agora o mais incrível de tudo: eles levaram cinco anos para escrever o roteiro. 5 ANOS!! Baseado num livro cujo autor já tinha feito a maior parte da pesquisa pesada antes! É claro que o roteirista teve de fazer uma pesquisa por fora, mas… cinco anos, gente! UM roteiro!! Pensem bem, é bastante tempo! Também, dizem que todo mundo sai do cinema aos prantos. Estou doida para assistí-lo! Se vocês o assistirem também, mandem-me as suas opiniões, os seus comentários, vou adorar saber o que acharam (mesmo que tenham odiado, não importa). Só tomem cuidado com spoilers, para não tirar a graça do pessoal que ainda não o assistiu.

fim 

Uma ótima escrita para todos hoje, um ótimo filme, e até amanhã!



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